Uns e Outros

Em julho de 2017, o clube de assinaturas TAG resolveu fazer um projeto diferente para comemorar seu aniversário e enviou aos seus associados um projeto diferente. A ideia era que 10 autores contemporâneos da língua portuguesa (9 brasileiros e 1 português) escolhessem um conto de um autor consagrado e fizesse uma releitura. O resultado foi o livro Uns e Outros – Contos Espelhados, que reúne 20 contos e vários autores, sob a organização de Helena Terra e Luiz Ruffato, editado pela Dublinense, contando com 272 páginas. Você pode adquirir seu exemplar pelo nosso link na Amazon ou se associando à TAG Experiências Literárias. Através do nosso link, ou utilizando o código FEL7XIR9, você ganha 30% de desconto na primeira caixinha.

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Composto de contos, é difícil analisar o livro como um todo. Alguns deles superam nossas expectativas, outros deixam um pouco a desejar, mas de maneira geral é uma boa aposta. Todos os contos dos autores consagrados são deliciosos e envolventes e foi uma grata surpresa perceber que Machado de Assis marcou presença 3 vezes na obra. Por outro lado, nem todos os contos “espelhados” realmente chegaram à altura das referências, mostrando o quanto pode ser difícil a releitura de uma obra. Os destaques positivos, em minha opinião, são as releituras de Eliane Brum, José Luís Peixoto e Cristovão Tezza.

Paulo Lins também escreveu um conto muito bom, mas cuja única ligação com o original parece ser a temática da escravidão. Ana Maria Gonçalves fez uma adaptação de Negrinha para os dias atuais que ficou muito boa também, mas que ainda parece muito uma atualização do conto original. Maria Valéria Rezende parece fazer apenas a atualização do conto também, porém de uma maneira que deixa a história bastante previsível. Luiz Antonio de Assis Brasil, Beatriz Bracher e Ivana Arruda Leite reescrevem as histórias originais sob a perspectiva de outros personagens, porém as meninas parecem se aprofundar mais, questionando os papeis de gênero em seus contos. Milton Hatoum parece transformar a Teoria do Medalhão em um panfleto político, embora com boas intenções, sem o impacto desejado.

Cristovão Tezza faz uma atualização do conto de Liev Tolstói, Depois do Baile, porém trazendo reflexões muito sérias e muito necessárias para nossos dias. Enquanto o russo conta a história de como um jovem se desiludiu do amor de sua vida por causa das ações do pai da moça, o brasileiro nos mostra uma jovem que se encanta com um rapaz, até conhecer o pai dele, um tanto assustador, e com um agravante…

“Um velho sério, soturno, inflado no terno justo, o olhar agudo e vigilante, sustentando o desconforto de ser fotografado como um sacrifício que se faz por uma boa causa.”

Eliane Brum opta por revisitar o conto Os desastres de Sofia, de Clarice Lispector. Enquanto no original temos a perspectiva de uma criança sofrendo do amor platônico por um professor, a autora contemporânea “espelha” a visão de um professor apaixonado por sua aluna, sem entender-se como um criminoso ou que seu desejo é algo ruim. Um conto pesado, muito bem escrito e perturbador que deixa o leitor pensando por dias seguidos.

“O que vi, vi tão de perto que não sei o que vi. Como se meu olho colado ao buraco da fechadura e em choque deparasse do outro lado com outro olho colado me olhando.”

José Luís Peixoto ganha aqui o troféu de melhor espelho! Não é só o melhor conto dos contemporâneos como é o espelho de um conto de Machado de Assis, Um Homem Célebre. O conto do português é tão perfeitamente produzido que é até simétrico ao do Bruxo do Cosme Velho. Enquanto Machado fala de um músico que queria compor grandes peças e ser reconhecido pela elite, mas só conseguia compor polcas e ser reconhecido pelas massas, Peixoto nos mostra um escritor que é reconhecido pela elite acadêmica, mas que queria mesmo ver seus livros nas mãos do povo comum. Mas o conto ainda reserva surpresas e que escrita deliciosa!

“Será que está condenado a escrever apenas alta literatura? Talvez exista alguma incompatibilidade natural entre os seus livros e as multidões que apanham o metro, que cozinham a sua própria comida, que vão para a cama cedo porque têm de acordar cedo.”

Cada dupla de contos mereceria uma análise em um post próprio. Caso o leitor se interesse, manifeste-se, podemos providenciar! O livro é uma ótima oportunidade de conhecer novos autores, clássicos ou contemporâneos, e, é claro, você pode discordar de mim à vontade, caro leitor! E depois venha aqui me dizer o que gostou e o que não gostou no livro, vamos conversar! A edição está lindíssima, elegante e, se você comprar pela loja da TAG, após se associar, receberá também a luva, o marca-páginas a revista e o mimo, palavras em ímas para você fazer sua própria poesia.

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Boas leituras!

2 comentários em “Uns e Outros

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