Eu terminei a leitura de A Vida não é Útil, de Ailton Krenak, já há algum tempo e acabei não escrevendo a respeito na época, apenas comentando brevemente em alguns stories no meu perfil do Instagram. E que bom que não o fiz naquele momento, porque, agora, consigo ver a obra sob uma nova perspectiva.
Durante a leitura, lembro de ter achado a postura do autor um pouco arrogante, já que ele parecia desprezar a Ciência moderna e acusá-la de ser um braço do capitalismo. Embora muitas vezes os recursos científicos sejam utilizados de maneira a favorecer o sistema financeiro vigente, todo o avanço que temos hoje (e digo avanço no sentido de coisas boas) devemos basicamente à Ciência. É só olhar o que o negacionismo tem provocado na nossa sociedade par ter uma dimensão do problema.
E essa posição de Ailton me deixou profundamente chateada, pois eu já havia lido outros trechos de conversas e escutado entrevistas com ele e que muito haviam me agradado. Depois de um tempo, preferi acreditar que talvez tivesse ocorrido uma falha de comunicação, entre o que ele quis dizer e o que eu acabei entendendo.
Isso foi no final de agosto. Como a leitura se aplica a mim hoje, em novembro de 2020?
Todos sabemos que este não tem sido um ano fácil. Para mim, além de pandemia e questões políticas e sociais, ainda pesou muito o lado pessoal. Muita coisa aconteceu, questionamentos surgiram e esse tem sido um período de reconstrução da minha própria identidade. E, ultimamente, tem uma frase que sempre volta à minha mente: “a vida não é útil”!
Estamos todos (ou quase todos) muito acostumados a buscar sentido em tudo: na vida, nos encontros com as pessoas, na borboleta que pousou em nosso ombro, no espelho que se partiu… mas a verdade é que nem tudo precisa ter um sentido.
Ailton Krenak fala muito sobre como o seu povo lida com questões existenciais: o homem é tão parte da natureza quanto qualquer outro animal ou mesmo as plantas, os rios e as pedras. Quando se fala sobre a vida não ter utilidade, é que ela não precisa ser grandiosa, não existe uma missão. Estamos vivendo como os animaizinhos, pequenos diante da natureza e sua imponência, insignificantes diante da grandeza do universo.
Talvez, o que realmente devesse ficar desse livro é que nós precisamos parar de achar que somos o centro de tudo. Tanto o indivíduo perante a humanidade, quanto a humanidade perante o planeta. Sequer nos vemos como parte da natureza e isso é absurdo!
Precisamos voltar a olhar o outro, aceitar que existe algo maior que o bicho homem, e nem falo em sentido metafísico, mas sobre a própria natureza. Precisamos entender que podemos não estar aqui para ver o mundo se recuperar dos nossos desatinos, que a vida não foi feita para que trabalhemos dia e noite e depois nos rendamos a um consumo desenfreado para preencher nossos vazios.
Talvez, tudo o que precisemos seja pisar no freio, voltar a nos relacionar com a natureza e valorizar o que realmente é importante nessa vida sem utilidade definida.
Minha cópia digital de A Vida não é Útil foi recebida em parceria com a Companhia das Letras, através da plataforma NetGalley. (Papo Literário integra o Time de Leitores 2020).
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