Os povos antigos sempre causaram grande fascínio. É só olhar a quantidade de livros, filmes e séries que se passam em eras remotas e o sucesso que elas fazem, como As Brumas de Avalon, por exemplo. Dentro do Espiritismo, temos uma obra que demorou muito a ser editada no Brasil e não é muito comum de ser encontrada nas prateleiras das livrarias espíritas, escrito pelo grande Léon Denis, tratando de um dos povos mais interessantes do passado. O Gênio Céltico e o Mundo Invisível, publicado em 1927, conta com 260 páginas e é editado no Brasil pela Editora Léon Denis. (Adquira o ebook na Amazon ou na Livraria Cultura)
Léon Denis é um dos grandes divulgadores do Espiritismo nascente, com vários livros publicados e de grande importância dentre os estudiosos da Doutrina. Seus livros são normalmente apaixonados, exaltando a causa espírita, mas sempre com muitas referências a outras obras, até mesmo fora do ambiente religioso.
O Gênio Céltico e o Mundo Invisível é seu último livro, e foi escrito quando já estava quase cego e muito enfermo, com a ajuda de outras pessoas. Aqui, o autor aborda as origens célticas do povo francês e, principalmente, a conexão entre Espiritismo e Celtismo, tendo por base estudos da cultura céltica, os livros bases da codificação, comunicações atribuídas a Allan Kardec e Joana D’Arc e suas lembranças de vidas anteriores, quando teria vivido entre os celtas.

O livro divide-se em três partes. A primeira trata dos países onde os povos celtas viveram e um pouco de sua cultura e o que restou dela. Descreve detalhes de geografia, personagens históricos e acontecimentos marcantes, podendo até ser usada como um guia turístico, caso um dia o leitor ou a leitora se interesse em viajar ao Velho Mundo buscando esse tipo de experiência.
A segunda parte é essencialmente uma comparação entre as duas doutrinas, Espiritismo e Celtismo. Léon Denis conta como a comunicação com os mortos e a ideia da reencarnação era algo extremamente natural entre os celtas, mais até do que para nós, eu diria, e ainda traz as tríades, onde as principais ideias célticas são reunidas em conjuntos de três.
A terceira e última parte é composta por um capítulo curto que parece uma panfletagem do autor promovendo a Doutrina Espírita, algo que lhe é característico, e uma conclusão da obra. Por último, há a transcrição das psicofonias recebidas pelo grupo que Léon Denis frequentava e que são atribuídas majoritariamente ao codificador do Espiritismo.

Léon Denis afirma que a formação filosófica e moral dos franceses está fortemente ligada a suas raízes célticas e isso faz bastante sentido, quando lembramos que Emmanuel comenta sobre as personalidades coletivas também em seu A Caminho da Luz. O que me preocupou um pouco foi o tom nacionalista do texto. Quando o livro foi publicado, o mundo estava no período entre as duas Grandes Guerras Mundiais e o sentimento de patriotismo estava bastante presente, tanto que foi isso que, de certa forma, acabou dando início à Segunda Guerra Mundial. É compreensível que o nacionalismo exacerbado apareça no texto, pelo momento histórico, porém preocupante.
Foi interessante ver Joana D’Arc, adorada dos franceses e do autor, retratada como uma alma celta e tem certo fundamento, já que ela se comportava, em certos aspectos, como as sacerdotisas de outrora, se refugiando na floresta para melhor ouvir os bons espíritos que a guiavam ou trazendo mensagens diretamente deles, quase como uma profetisa.
Ler trechos das tríades me fez parecer que estava lendo alguma versão de O Livro dos Espíritos, tal a semelhança dos ensinamentos dos druidas e dos espíritos que responderam Kardec. Isso nos faz crer, e Léon Denis chega a dizê-lo, que a facilidade com que os primeiros espíritas aceitaram as ideias trazidas na codificação se devia principalmente à familiaridade com tais princípios por possíveis encarnações pregressas como celtas.

Esse é um livro que demorou muito a ser traduzido para o português brasileiro por ser considerado muito polêmico, já que traz mensagens atribuídas a Allan Kardec. Muitos torceram o nariz para o estilo dessas comunicações, afirmando que seria diferente da forma como ele escrevia enquanto encarnado. Bom, sabemos que existe diferença na forma como se escreve e como se fala, e estamos comparando um espírito antes e após o seu desencarne. Eu mesma já presenciei a mudança no estilo de fala de um mesmo espírito em uma mesma comunicação por questões de necessidade.
Claro que é sempre bom manter o senso crítico ligado, mas me parece muito mais um preciosismo e um não querer crer que Kardec pudesse se comunicar ali e daquela forma. Chegaram a afirmar que havia alto grau de misticismo em suas palavras, o que desclassificaria a sua mensagem, mas a maior parte do que está ali pode ser encontrado em outras palavras no livro A Caminho da Luz, de Emmanuel. Assim, é possível que não haveria, naquele contexto, palavras que pudessem expressar exatamente o que o espírito desejava transmitir. Além disso, o próprio Kardec, ainda encarnado, publicou textos relacionados à cultura celta, o mais relacionado a obra de Léon Denis sendo o artigo da Revista Espírita de abril de 1858, O Espiritismo entre os Druidas. (Adquira a Revista Espírita na Amazon)
O livro é encantador e me causou muitas saudades. Em muitos momentos me senti andando pelas florestas, ouvindo as canções dos bardos e olhando os grandes monumentos de pedras. A obra era exatamente o que eu esperava e o que eu queria que ela fosse e agradeço imensamente ao autor por isso. Foi como ler diários antigos de coisas há muito vividas e lembrar de um tempo e uma terra que não voltam mais. Como mergulhar em memórias amargamente deliciosas sem realmente recordá-las.
Boas leituras!
Não foi um livro fácil para mim, por várias questões. Quem sabe um dia eu leia outro Leon Denis e melhore minha impressão sobre ele.
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Pode ser, Fer, mas também não precisa se forçar. Às vezes, a gente não se dá bem com um autor e está tudo bem. ☺️
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Amo León Denis, seu caráter paladino e sua filosofia, nos eleva a alma !!!
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É um dos gigantes do início do espiritismo! Esse é um dos livros dele que mais gostei.
Obrigada pela visita, Liana, volte sempre ! ☺️
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Amo León Denis, o seu caráter paladino e sua filosofia, nos eleva a alma!!
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Quando estava lendo sentia realmente o som da floresta e toda sua energia. Foi muito interessante conhecer está obra.
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Eu acho que a gente deveria ir de coração aberto para sentir a obra, assim como você descreveu. Que bom que teve essa experiência!
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